18 agosto 2005

Não vale

mentir, mas tudo o que sobrar para além dessa promessa pode dar-se à invenção ou converter-se à fantasia, amansar-se em água doce ou transmutar-se, pelo dom da alquimia, em amor puro
eu sei que existe
e depois também não vale
agora a pena
procurar as palavras preciosas com que as emoções se enfeitam, para quê, se as sentimos cruamente sobre a pele, única forma de saber se são ou não são autênticas, não vale fingir, pretender que os anjos mais não são do que metáforas
não são
que as suas asas são só isso, quatro letras, abertas ou fechadas, sempre pela mesma ordem
quatro letras a formar uma palavra
não vale fazer de conta que não sou, que volto a ser, que nunca fui, que tenho um nome, não vale de nada, o esforço é outro, o rumo é certo, ainda é o mesmo
o dos pássaros na estação do desembarque
a escrita é só um artifício, um passatempo, uma forma de entreter o movimento dos meus dedos,
ou não é
não vale mentir

1 comentário:

Sofia Bragança Buchholz disse...

Não vale partir... para quando o regresso?