30 junho 2005

De maneira que,

depois de ter andado a noite inteira às voltas e a passar de colo em colo, fui levada ao tal cunhado que era um entendido em plásticos. Assim que o vi, desconfiei. Não da aparência, embora também ela deixasse um pouco a desejar, mas que fosse competente a ponto de saber devolver-me as curvas certas e os traços necessários para me fazer voltar àquilo que eu era: uma giraça boazona e desprendida, com um belo par de mamas e um cu rijo, barriga intacta, madeixas loiras no cabelo e olhos verdes, pestanudos, pernas esguias, torneadas, sem ponta de celulite, a pele sardenta e, é evidente, um ar de parva insuportável! Era precisamente neste meu ar de parva insuportável, e devidamente inconfundível para que não me tomassem por qualquer outra entre as milhares que p'raí há, que duvidava da mestria do cunhado. Seria ele alguma vez capaz de o recuperar, tendo como única referência aquela estupidez boçal das miúdas lá do bairro? É que uma coisa é ser-se parva, e outra, muito diferente, é exibir um ar de azêmola...
Infelizmente, a desconfiança de que era um incapaz para todo o tipo de tarefas confirmou-se muito antes de o cunhado me tratar do ar de parva, pois assim que abriu o saco e que me viu, acomodou-se ao que sabia sem nenhum esforço acrescido e exclamou
ena pá!, a merda da garrafa ficou toda delambida!...
O outro ainda lhe disse
mais respeitinho que isso aí é uma gaja, pá!, não é uma garrafa...
mas o encolher dos ombros, o ar de gozo e o assobio que assoprou por entre os dentes tiraram-me todas as dúvidas que ainda pudesse ter. Valeu-me o homem do lixo que, encostando-me ao ouvido, prometeu
não se aflija, minha linda, que havemos de encontrar quem a conserte
e levou-me para dentro.

Sophia...

hum?
olha ali para o lado!
hã?!
ali, para a tua direita...
gonçaloooooo... o meu conta-me tudo! you're a genious baby!!
não eras tu que não sabias falar estrangeiro?!
é que estou emocionada, pá! saiu-me!...
ah!
és do caraças, pá! obrigada!
de nada! diverte-te!

O Gonçalo

falou-me cedíssimo e excitadíssimo
Sophia, tenho excelentes notícias!
e eu, ainda meio a dormir,
a sério? quais são?
imagina tu que a outra, sabes?, a outra? a gaja de carne...
sim, o que é que tem?
pois olha que ela pode ser precipitada, mas não é parva!
grande novidade, gonçalo! é claro que não! a parva sou eu!...
Sophia, ouve bem: a gaja tem um back up do outro blogue...
um quê?
um back up!
ai gonçalo, não fales em estrangeiro, já sabes que comigo não dá!
um back up, Sophia, quer dizer que ela guardou tudo o que lá estava escrito, apesar de o blogue já não andar por aí, à distância de um clique, de um link, de seja o que for...
ah!... e então?
então, a minha ideia é reactivar uma cópia da tua vidinha...
bem, gonçalo, mas achas que isso é possível?!
acho que sim! perco um ou dois dias a fazer copy paste
a fazer o quê?
deixa! o que interessa é que até ao fim de semana vais ter, ali na coluna da direita, um link para a tua vidinha...
e se ela descobre e apaga tudo outra vez?
ela é precipitada, mas não é parva, Sophia!
pois é... a parva sou eu! obrigada gonçalo! agora vou dormir mais um bocadinho...

Grande Gonçalo! Vou poder ter a minha vidinha de volta, nem acredito!

29 junho 2005

2 comments

anonymous said...
deves achar que papo a tua história!...
balelas, filha! o que tu és é uma fala
barato, é o que é! deixa que a outra
te apanhe e a ver se não és recambiada,
desta vez para uma ilha deserta
no meio de nenhures que te vai dar cabo
desse plasma de merda para sempre!

violeta said...
querida sophia, estou impressionadíssima
com a tua história! como é que pode haver
gente tão má? ainda bem que os senhores
do lixo perceberam que eras tu e te ajudaram.
muitos beijinhos!

Bom,

então foi assim. Se bem se lembram, houve um dia em que ela, a gaja de carne, agarrou no saco comigo lá dentro feita em papas, literalmente, e o atirou para o contentor sem piedade nem complacência (a pena que eu tenho de não poder recuperar tudo o que foi escrito nesse outro conta-me tudo, era muito mais fácil apanhar o fio à meada, mas pronto!, paciência...) Ao princípio, o cheiro nauseabundo deu-me vontade de vomitar, mas depois percebi que, mesmo que o quisesse fazer, não tinha órgãos capazes de dar vazão àquela náusea e acalmei-me. Respirei fundo, pensei que, se Deus quisesse, ia conseguir sair dali para fora e encontrar alguém compreensivo que me salvasse e comecei a rezar. A certa altura, ouvi o barulho do camião que vinha fazer a recolha do lixo e resolvi dar tudo por tudo. Com as forças que me sobravam, agitei-me dentro do saco - tarefa díficil para uma pessoa normal, quanto mais para uma amálgama de plasma! Mexia-me de um lado para o outro e imagino que, quem resolvesse espreitar para dentro do saco, achasse que eu era uma alforreca nojenta e pegajosa, daquelas que nos deixam a pele cheia de borbulhas quando lhes tocamos. E, no entanto, não foi isso que aconteceu. Houve, de facto, alguém - um dos homens do lixo, quem mais?! - que espreitou para dentro do saco, calculo que assustado com os seus (meus) movimentos, e que era tão esperto que percebeu logo o que se estava a passar
eh pá! está aqui uma gaja!
disse ele. Como é que ele percebeu tão rapidamente que eu tinha sido uma gaja, não sei dizer. Mas sei que os outros dois vieram logo espreitar também para dentro do saco e que concordaram com ele.
pois está! está aqui uma gaja em muito mau estado!
disseram eles. Percebi que estava safa e só me apeteceu ter outra vez braços e boca para lhes dar palmadinhas nas costas e louvar-lhes a inteligência, mas, até chegar a esse ponto, ainda ia ter de passar por muitas coisas. Bom, o que interessa é que os homens do lixo pegaram em mim, ou no saco, com desvelo (foi desvelo, sim, lembro-me bem) e andaram o resto da noite às voltas comigo no colo, enquanto faziam a recolha do resto do lixo pela cidade. No fim do turno, foi um sarilho para decidir qual deles é que ficava comigo. Acabou por ser o primeiro, o que me tinha encontrado, alegando que tinha um cunhado que trabalhava numa fábrica de plásticos que, de certezinha, ia poder ajudar-me...

Estou, Gonçalo?

sim, quem fala?
sou eu, gonçalo...
eu quem?
eu, gonçalo, eu...
sophia?!
sim!!!
como é que é possível?! tu não tinhas derretido, pá?!
é, é uma longa história, gonçalo! depois conto-te...
e ela já sabe?
ela quem?!
ela... tu sabes! a outra...
ah! ela? acho que não, mas estou mortinha para que descubra! vai ficar cá com um melão!
ai vai, vai...
olha, queria pedir-te um favor...
diz lá...
há alguma forma de eu recuperar os posts que ela apagou?
hummm... não me parece!
aquela cabra apagou tudo, gonçalo! o que era dela, e o que não era dela!
eu sei...
e não há mesmo maneira nenhuma de pôr isso tudo aqui outra vez?
acho que não sophia, mas vou averiguar...
ok. liga-me quando souberes!
está combinado!
beijinhos...
beijinhos, sophia! é bom ter-te de volta!...

1 comment

violeta said...
ai sophia, que estou tão emocionada!
voltaste, amiga, que bom, que bom!
como vai tudo? a tua mãe está melhorzinha?
e tu estás mesmo boa? muitos beijinhos

Estou aqui que nem posso

para ver a cara dela! Quando a parvalhona descobrir que afinal o blog ressuscitou, acho que vai morrer de susto! Com o mesmo nome e tudo... isto é que é habilidade, hã?! Só tenho pena de que alguns dos posts mais brilhantes que escrevi sobre a minha patética vidinha tenham sido engolidos pelo «delete», esse assassino. Alguém faz ideia se os posso recuperar?! Aí é que ela morria mesmo, a anormal! Sim, porque eu sou precipitada e tonta, isso é verdade, mas ela é que tem os dedos, ora bolas! Quem carregou na tecla do delete foi ela, não fui eu. Que eu, se bem se lembram, estava toda retorcida e amolgada nessa altura, a atrofiar dentro de um saco de plástico que ela despejou, sem piedade, no contentor do lixo! Talvez deva então começar por vos contar quem é que me tirou dali e como foi difícil recuperar para chegar até aqui... É uma longa história, por isso, preparem-se para ouvir.

Pois é,

a precipitação nunca me levou por bons caminhos. Não fosse isso, e a minha vidinha teria podido continuar sem sobressaltos écran fora, leve e despreocupada, como sempre imaginei. Não fosse ela, a gaja de carne e osso que julgou poder pôr e dispor do meu plasma por pura e simples diversão, e eu não teria feito a tristíssima figura de me derreter ao sol, numa longíngua ilha do Pacífico. O que vale é que o tempo cura tudo. Até um monte de plasma derretido dentro de um saco de plástico atirado para o lixo. A prova disso está aqui, à frente dos vossos olhos... Agora só me falta ver se ela se atreve a mandar-me outra vez não sei para onde... A parvalhona!...