14 setembro 2007

Primeiro

aspiramos o pó.
Depois, podemos ASPIRAR ao que quisermos.
Mais tarde pintamos as paredes, se não der muito trabalho.
A ideia é lavar a alma.

Já não me dá

assim tanta pica, o néon. A escrita espalmando-se nele. Caindo-lhe em cima. Uma letra, outra letra, outra letra. Palavras e frases. Ponto. Espaço. Shift: maiúsculas. Essas coisas. Trejeitos. Manias. Coisinhas de nada.
O rectângulo é demasiado pequeno, virtualmente vêem-se as vistas, debruço-me mais e mais à janela, não passa ninguém, espio sem ser vista, que bom. Cuspo o que me dá na real gana. Às vezes, vomito.
Passas cá tu, de vez em quando, e pões-te logo a pensar que tenho alguma coisa, que perdi uma amiga, que me acusaram de embustes, que devo estar a passar por uma cena qualquer que não te contei, mas não é nada disso. é apenas de vidro ou de outras substância qualquer. Transparente, por vezes, fosco na maior parte dos dias, intermitências. Não se vê lá para dentro, embora se pense que sim. Os vultos lá atrás não são de ninguém, as pessoas daqui estão sempre paradas, não notas?
Acho que já te expliquei: não passa de um exercício. Pô-las a andar de um lado para o outro, a fazer coisas que não era suposto, a morrer, a cantar, a acusar-me de embuste, seja o que for, não é realmente importante. E já nem sequer me dá pica, vê lá que chatice...

Que post era aquele

no de vidro?
qual post?
aquele, de dia 9
não era nada
oh
a sério, não era nada.

tal como este
também não é nada.

ok?

09 setembro 2007

Ontem,

foi ontem?
ontem recebi um mail dela.
falava de embustes, e percebi que estava zangada comigo, as palavras eram como pequenos soluços, espaçadas. uma mágoa qualquer azedava-lhe o tom, acho que já não somos amigas. que nunca mais vamos ser. tentei explicar-lhe que nada disto
nada
é um embuste. apenas a forma que achei de me reinventar, de inventar histórias que não me pertencem ou, tão simplesmente, de deixar que as palavras me escorreguem dos dedos sem querer acertar em nenhum alvo real. riu-se. e mesmo sendo apenas um riso de mail, o seu tom de ironia atingiu-me. repetiu outra vez
és um embuste, a quereres fazer-te passar por quem não és. desde o princípio que sei.
depois alguém me chamou.
acho que esperam por mim à porta da rua.
tenho de ir.

08 setembro 2007

E então dá-me para isto:

chego, espalhando-me com medo que me vejam - ou que me espiem - como se derramar palavras fosse quase um sortilégio, um gesto reprimido, uma vontade que contenho. dizem-me de fora que não há nada a perder. não há, seguramente, o que ganhar neste alinhamento recto de palavras ao acaso. o que tenho para dizer vou-o dizendo em lugares menos desertos, lugares onde o papel retém as letras e onde cada recta de palavras pode seguir um rumo certo até se fazer sentido. aqui, pelo contrário, não há nada que precise de provar. nada em que precise de insistir, nenhum ponto de referência, então porquê? porquê o medo
talvez não seja medo
é claro que não é medo. apenas a palavra:
medo
minúscula no início de uma recta que não é preciso completar, só se quiser.
e então dou por mim a pensar que me faz bem e me dá gozo: chegar, espalhar-me, e criar esta falsa ilusão de sortilégio. e sem ter nada a perder...