11 outubro 2006

Tenho almoçado

de vez em quando com o escanzelado de merda. Coitado!, continua tão magro de ideias que chego a afligir-me. Não é por ele, é por mim, que andei anos e anos a achá-lo o maior, apesar de nunca ter tido mais de um metro e sessenta, o que para homem é pouco, por mim que passei metade da vida a sonhar dar-lhe beijos na boca e a achar que ele era assim uma espécie de cara metade, ou de alma gémea, acho que era mais isso, alma gémea, e agora, quando almoço com ele, raramente, oiço-o a ruminar coisinhas de nada naquele cérebro de caca e só penso que ainda bem que me passou. Afinal, também foi por ele que comecei a escrever este blog, na altura muito mais divertido, é verdade, mas pronto, aqui fica a prova de como se pode passar frases e frases sem dizer nada. Fazia-me falta este ócio, caraças!

A coisa mais difícil de aturar?

As birras INFINDÁVEIS dela.

Não dá

para acreditar nesta anormal!

1 comment

anonymous said...
já cá faltava!

Mesmo que

o nonsense tenha estado na origem deste blog, nunca pensei voltar a ele!
lá estás tu a fazer bluf, ó minha parva!
(e se estivesse?)

E, tu, Gonçalo?

eu?
sim, tu!
mas eu o quê, sophia?
sei lá o quê! tens cada uma!...
'dasse! já não se pode dizer nada!

Mããããeeeee!

- Filhaaaaa!...
- Por aqui?
- Pelos vistos.
- Muito bem, gosto de a ver.
- Pois eu gostava muito mais se me deixasses em paz. Tu não vês que eu não me sinto nada bem?
- Ah! Isso passa-lhe, vai ver.
- Não passa, não.
- Passa, passa...
- Não passa, não!
- Passa, sim!
- Não passa! Já te disse que não passa! Olha para mim: não vês que estou cada vez pior?
- Por acaso, não tenho nada essa impressão!...
- Isso é porque és uma insensível!
- Eu? Uma insensível? Oh mãe, isso até lhe fica mal!
- Uma insensível, sim senhora! Não vês que eu quase não me mexo?
- Mas isso é porque está gorda!
- Mau, mau... Agora estás a ser mal educada!
- Desculpe lá, só estou a querer ajudá-la! Aposto que anda outra vez a comer chocolates às escondidas. Diga lá, anda ou não anda?
- E se andar? O que é que tens a ver com isso?
- Eu? Nada, de facto! Aliás, nem sei para quê esta conversa...
- E quem é que há-de saber? Irra que às vezes és mesmo parva!

07 outubro 2006

Azul clarinho

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Sento-me à espera,

talvez hoje venham visitar-me, abro a janela. Nunca sei a hora certa em que irão subir-me ao peito, depois ao cérebro, à boca, às mãos, ao corpo inteiro que levo à letra e que derramo em lençol branco. Nunca sei se vêm certas, pertinentes, necessárias, se se articulam com o que sinto ou se é aleatória a forma como se atiram, se me procuram ou se tenho de encontrá-las, uma a uma, num mar de léxico infinito. A verdade é que não vivo sem elas e que passo o tempo à espera que me cruzem a janela para as poder jorrar dos dedos, pequeníssimos soluços de cor negra eclodindo aos solavancos, pequeníssimos rumores que ponho em fila um após outro a tentar que o horizonte não se esgote na parede azul da sala, pequenos nadas, afinal, que dependem de uma ordem para dizerem qualquer coisa.
Sento-me à espera da escrita. Acredito que regresse, se não hoje um destes dias, ao meu corpo, às minhas mãos, à minha boca.

06 outubro 2006

É estranho

estar de novo aqui. Como se, de alguma forma, já não pudesse pertencer a nada disto.

Não as vou buscar

a ti, as palavras, nem mesmo as que parecem terem sido em tua honra, não existe essa empatia entre nós dois. Falo em nós, depois reparo que só eu própria estou presente na palavra
nós o quê?
que não há dois pares de mãos, um corpo sobreposto ao outro, uma conversa a duas vozes, nada a dobrar para além do horizonte.

É claro

que mentes, como sempre.

Volto

sem máscaras e sem plasma, a pele à vista de quem passa, a carne à mostra. Talvez porque tenham vindo à tona os gestos que afinal procuro e que não são, já não são, poses de espelho. Já não temo pelo reflexo das palavras que projecto no néon. São o que são, são como são, não temo o eco, as distorções, as várias vozes que me habitam, deixo-as estar. Não temo o vácuo e não me sinto perseguida pelo sentido que preciso de fazer: posso não fazer nenhum, escrever à mesma, ser quem quiser, o que quiser, alheia aos outros e a mim própria, presente ou não naquilo que digo, é disso mesmo que se trata, como sempre, de exercício. Porque, se páro, os dedos queixam-se e eu não gosto que se queixem, dói-me o peito e é escusado. O resto é pouco, é-me indiferente. Da mesma forma, o que aqui fica não é para a posteridade, vale o que vale, e assim já chega: justifica-se o regresso.