talvez hoje venham visitar-me, abro a janela. Nunca sei a hora certa em que irão subir-me ao peito, depois ao cérebro, à boca, às mãos, ao corpo inteiro que levo à letra e que derramo em lençol branco. Nunca sei se vêm certas, pertinentes, necessárias, se se articulam com o que sinto ou se é aleatória a forma como se atiram, se me procuram ou se tenho de encontrá-las, uma a uma, num mar de léxico infinito. A verdade é que não vivo sem elas e que passo o tempo à espera que me cruzem a janela para as poder jorrar dos dedos, pequeníssimos soluços de cor negra eclodindo aos solavancos, pequeníssimos rumores que ponho em fila um após outro a tentar que o horizonte não se esgote na parede azul da sala, pequenos nadas, afinal, que dependem de uma ordem para dizerem qualquer coisa.
Sento-me à espera da escrita. Acredito que regresse, se não hoje um destes dias, ao meu corpo, às minhas mãos, à minha boca.
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