já não espreito as vidas doentes, já não me debruço, os abismos ficam para trás.
estou mil passos à frente, mil saltos acima do chão, aos poucos descamo o meu ego, obrigo-o a ver que nada é assim tão importante, afinal, que dele não espero mais do que paisagens mentais, construções passageiras, horizontes banais onde a vida dos outros flutua no limbo.
obrigo-me a ver para além das camadas da pele, fora dos espelhos, distante de todas as minhas vaidades, dos aparatos criados para nada.
é primavera lá fora e não foi por engano que as rosas floriram, manchadas de seda, rubras ao vento de abril que, não tarda, me anunciará o amor como nunca o soube viver e me fará, finalmente, entregar as armas que durante anos me feriram.
30 março 2009
E eis que hoje
de repente
sem que nada o fizesse prever
o vidro chama por mim.
estilhaço-me, entrego-me à transparência das escarpas, já nada me fere, já não me dói nada, é primavera, lá fora os jardineiros aparam-me a relva, as rosas rebentam aos gritos na sebe e chamam por mim, tal como os pássaros que se apoderam da sombra.
sophia, não é?
a minha pele substituta, o meu plasma, a voz à qual não me atrevo a dar nome
porquê?
porque suponho que não seja preciso, que não me faz falta, que sophia seja afinal a pele que me serve, às mil maravilhas, de cada vez que me debruço à janela.
sem que nada o fizesse prever
o vidro chama por mim.
estilhaço-me, entrego-me à transparência das escarpas, já nada me fere, já não me dói nada, é primavera, lá fora os jardineiros aparam-me a relva, as rosas rebentam aos gritos na sebe e chamam por mim, tal como os pássaros que se apoderam da sombra.
sophia, não é?
a minha pele substituta, o meu plasma, a voz à qual não me atrevo a dar nome
porquê?
porque suponho que não seja preciso, que não me faz falta, que sophia seja afinal a pele que me serve, às mil maravilhas, de cada vez que me debruço à janela.
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