já não espreito as vidas doentes, já não me debruço, os abismos ficam para trás.
estou mil passos à frente, mil saltos acima do chão, aos poucos descamo o meu ego, obrigo-o a ver que nada é assim tão importante, afinal, que dele não espero mais do que paisagens mentais, construções passageiras, horizontes banais onde a vida dos outros flutua no limbo.
obrigo-me a ver para além das camadas da pele, fora dos espelhos, distante de todas as minhas vaidades, dos aparatos criados para nada.
é primavera lá fora e não foi por engano que as rosas floriram, manchadas de seda, rubras ao vento de abril que, não tarda, me anunciará o amor como nunca o soube viver e me fará, finalmente, entregar as armas que durante anos me feriram.
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