28 abril 2006

Num dia como outro qualquer

de calor, mas muitos anos depois
não exageres, foram só alguns meses
meses, ok, num dia como outro qualquer de calor mas muitos meses depois, quantos não sei, não os conto, prefiro não contar o tempo que não posso reter, revejo-me ao espelho. É o mesmo rectângulo, é o mesmo néon, o ecrã tal e qual como o deixei há meses atrás, pálido, o mesmo template,
ia dizer : a mesma merda de sempre
mas ainda não decidi se me quero ver tal e qual como sou
a mesma de sempre
ou se em vez disso me invento,
outra vez
se me mostro ou me escondo atrás da pele que não tenho,
plasma, não era
se me deixo levar pelo chumbo das letras, pelo barulho dos tiros a sair-me a custo dos dedos
das teclas
pelo barulho das teclas a sair-me às golfadas do peito ou se, em vez disso, me deito quieta e à sombra à hora da sesta ou, ainda, se sonho.
Por enquanto
e é tudo
e é muito, sei que num dia como outro qualquer de calor me acendo à espera que a escrita me traga o alento que não encontro na vida e é tudo
e é muito
até porque já se passou muito tempo e há coisas de que já não me lembro, coisas que preferia esquecer, muitas coisas das quais ando desesperadamente à procura para depois lhes poder chamar nomes, acho que deve ser isso.

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