14 dezembro 2006

Passei a buscá-la

por volta das sete e meia, mas ainda dormia. Não tive mesmo outro remédio senão ir lá acima, ainda bem que tenho as chaves de casa, abri a porta, entrei de rompante no quarto.
- Mãe, acorde!
Esbugalhou os dois olhos, como se eu fosse uma aparição, um fantasma, um monstro que a queria comer ou, simplesmente, a mais ingrata das filhas.
- Que horas são?
- Um quarto para as oito. Levante-se e vista-se. Temos de estar no hospital antes das nove.
- Qual hospital?
- Não interessa, quando chegar, logo vê.
Puxei-lhe os cobertores para trás e arranquei-a da cama, gemeu.
- Não percebo por que é que me tratas tão mal.
Eu também não, mas ultimamente, mais do que nunca, tenho tido vontade de lhe morder, é mais forte que eu.
- Vá lá, vamos embora.
Em vinte minutos, vestiu-se e descemos as duas, mas via-a com um ar tão desolado que, em vez de me pôr a caminho do hospital, levei-a à Caparica, para vermos o mar.
- Que lindo hospital, disse a minha mãe. Afinal, foste querida.
Fechei-me com ela na cadência das ondas e ficámos as duas a olhar para o azul.

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