12 dezembro 2006

Valeu a pena

ensaiá-las, tomá-las vezes sem conta nos dedos, dispará-las às cegas das teclas do computador para que acertassem no branco, para que encontrassem um rumo muito mais extenso do que os limites rectangulares de um blog ridículo.
Conta-me tudo
De vidro
A substância das letras muito mais condensada, a depuração das palavras
é isso escrever
depurar as palavras das vaidades do ego, cingi-las muito mais do que vertê-las a eito, tomar-lhes o gosto na língua, hoje sabem-me bem, finalmente consigo prová-las sem que o sabor amargue o meu peito, sem ninguém que me espreite. Mais tarde
mais logo
quando forem um livro já não me pertencem, poderão à vontade cair em olhos alheios, noutras mãos, serei eu de verdade e não mais a sophia inventada ou outra qualquer, serei eu, e não elas, seremos todas a mesma, haverá porventura quem me reconheça
tanto me faz
nunca me conformei à vidinha supostamente vazia com que me iniciei por estas paragens, por trás do plasma sou pele, sou de carne, existo muito para além do que escrevo e hoje, finalmente, consigo escrever muito para além da minha existência humana e banal, das histórias comuns de todos os dias, e ainda bem que o consigo, nem sequer por me sentir importante ou melhor do que os outros, mas pelo prazer que me dá ser capaz de o fazer.

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