03 dezembro 2007

Ando ao engano

a achar-me dona de mim quando afinal nada em mim me pertence
de facto.
Ando louca ao engano, ao encontro das coisas, procuro-me nos improváveis, nos menos certos, vou sempre para o lado onde nada me espera, a direcção está errada e eu erro. Erro à procura do mundo que julgava caber-me nas mãos, um manso volume de azul que contive nos dedos durante anos a fio mas eis que o azul se dilui, molha-me o colo e os olhos, talvez chore mais tarde, isso sim é provável.
Por ora os olhos estão secos, nem sequer ardem, o mundo caiu-me das mãos, tenho apenas espuma nos dedos.
Ando ao engano a pensar que são letras, a achar que domino as palavras, que tenho uma história e não tenho, muito menos um jeito ou um dom para contar o que seja, é tudo um logro e eu
mas que parva que eu sou
cedendo ao engano.
Ando em círculos mas nenhum mar me circunda, é só a espuma que sobe por mim, rasa-me os olhos
não choro
depois desce em espiral e leva-me o folêgo, provavelmente estou morta e ainda não me dei conta, ando ao engano e é tudo, não tarda muito e descubro que é tarde e que estou finalmente no fundo do poço.
Mas nem sequer isso lamento.

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