que de vez em quando aqui passas
- desculpa não termos tomado chá noutro dia mas estava cansada, acho que já era a espuma, já era o poço a comer-me, o logro, o engano, isso tudo que sabes que sobe por mim, ou que desce, que me leva cada vez para mais longe de tudo
tu, que de vez em quando aqui passas e que te afliges
- eu sei que te afliges
quando me vês
- quando me lês
quando escrevo estas coisas que assustam, assustam-me, sim, assustam-me imenso e tu sabes
- como é que não enlouqueces?
quando os monstros vêm espreitar-me ou mais do que isso
- sabes que ultimamente têm querido levar-me?
quando me puxam, me sugam, me rasgam por dentro e me esvaio, não fico capaz de mais nada senão destes disparos de mentira
- palavras!
que não atingem ninguém, que não ferem, não matam
- afinal não sou lá grande espingarda a escrever
tudo mentira.
Ainda assim, quando vieres, quando voltares a passar por aqui, quando sentires o estômago às voltas com cada palavra que cuspo, quando deres por ti a pensar
- mas o que é que se passa?
protege-te.
Mantém-te à tona do poço e não tentes espreitar lá para dentro. No fundo do fundo estou eu, disposta a desistir de salvar-me, não me perguntes
- porquê?
Tomamos chá noutro dia, está bem?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
não posso manter-me à tona porque estou mesmo ao teu lado, sempre.
Então estás no fundo, do fundo, do fundo...
Felizmente - e isso garanto-te, pois vê-se daqui - no fundo do fundo do fundo há tudo para fazermos um chá. amanhã? sexta-feira? na quinta já sabes que tenho de sair do fundo do fundo do fundo para a superfície do espelho, mas vou disfaçada de gaja bem sucedida, ninguém vai dar por nada.
:(
Enviar um comentário