30 junho 2005

De maneira que,

depois de ter andado a noite inteira às voltas e a passar de colo em colo, fui levada ao tal cunhado que era um entendido em plásticos. Assim que o vi, desconfiei. Não da aparência, embora também ela deixasse um pouco a desejar, mas que fosse competente a ponto de saber devolver-me as curvas certas e os traços necessários para me fazer voltar àquilo que eu era: uma giraça boazona e desprendida, com um belo par de mamas e um cu rijo, barriga intacta, madeixas loiras no cabelo e olhos verdes, pestanudos, pernas esguias, torneadas, sem ponta de celulite, a pele sardenta e, é evidente, um ar de parva insuportável! Era precisamente neste meu ar de parva insuportável, e devidamente inconfundível para que não me tomassem por qualquer outra entre as milhares que p'raí há, que duvidava da mestria do cunhado. Seria ele alguma vez capaz de o recuperar, tendo como única referência aquela estupidez boçal das miúdas lá do bairro? É que uma coisa é ser-se parva, e outra, muito diferente, é exibir um ar de azêmola...
Infelizmente, a desconfiança de que era um incapaz para todo o tipo de tarefas confirmou-se muito antes de o cunhado me tratar do ar de parva, pois assim que abriu o saco e que me viu, acomodou-se ao que sabia sem nenhum esforço acrescido e exclamou
ena pá!, a merda da garrafa ficou toda delambida!...
O outro ainda lhe disse
mais respeitinho que isso aí é uma gaja, pá!, não é uma garrafa...
mas o encolher dos ombros, o ar de gozo e o assobio que assoprou por entre os dentes tiraram-me todas as dúvidas que ainda pudesse ter. Valeu-me o homem do lixo que, encostando-me ao ouvido, prometeu
não se aflija, minha linda, que havemos de encontrar quem a conserte
e levou-me para dentro.

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