11 abril 2007

Ainda tenho a receita

na minha carteira, dobrada.
Seroxat
escrito na caligrafia do mestre, a letra preta e permanente inclinada, e o meu nome
Sophia
Quando almoçámos os dois, há uns tempos atrás, falei-lhe da minha suspeita de poder andar deprimida, contei-lhe
não tenho força para fazer nada
não tenho vontade
Comemos naquele restaurante onde servem sopas de fruta, pedimos os dois o sumo do dia como já vai sendo costume, falámos da alma, de andarmos aqui à procura do mundo e da mais que evidente probabilidade de o mundo, afinal, ficar noutro sítio
para mim mais acima
e para si?
Para ele, nada.
Depois do café, fomos ao consultório e passou-me a receita
prometa que toma e depois dê-me notícias
Despedimo-nos com um abraço. Ele é alto e sinto-me sempre desconfortável quando me abraça, parece-me sempre que sobro
prometo
Mas continua dobrada na minha carteira.
Amanhã
talvez
dou-lhe notícias.

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