Também pode ser isso.
Não escrever nada, estar à janela por estar, chamar-me Sophia e desenrolar por aí fora a minha vidinha às vizinhas
- Por falar nisso, onde é que elas andam?
- Não sei.
Nunca mais soube nada dos namoridos, da catarina, e de todas as outras que gerem vidinhas como, afinal, eu giro a minha
- Sophia, não é?
Sophia. Isso mesmo.
- Muito prazer.
Às vezes, invejo-lhe o plasma. A facilidade com que faz e desfaz considerações, amizades, a inconsistência dos traços, a fragilidade das medidas que encontra para justificar alguns dos seus actos. Invejo-lhe o tom, fútil e leve, o sentido de humor, a ignorância, o orgulho.
Eu sou muito mais pele, atrevo-me a menos.
Além disso, não sou como ela. Não gosto de expor-me ao ridículo, ao gosto dos outros, às pretensões, à inveja, às vidinhas, no fundo, que encontrei tantas vezes escorrendo da tinta, enchendo janelas, desfiando proezas, rotinas, actos caseiros sem nada de heróico, arrotando sentenças, ou despejando chavões e eu disso não gosto, sabe-me a pouco.
Já à Sophia, sabe-lhe ao suficiente para poder sustentar a sua própria vidinha.
As suas próprias proezas, rotinas ou actos caseiros, as suas sentenças, os seus chavõezinhos.
Por isso, querida, bem haja. Volte là sua vidinha que bem a merece.
- Hei-de voltar, obrigada.
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