29 julho 2005

Chego a ter medo

dos teus olhos quando me sondam no escuro, rumando densos ao meu corpo e envoltos numa penumbra de excessos, maníacos, perversos, querendo possuir-me à força
é isso
então volto-te as costas e nunca adormeço em paz, as retinas que me apontas às costelas e me cingem a cintura de aflições e suores frios, chego a pensar que se atiram aos meus sonhos com a precisão da raiva e que saem disparadas em busca das minhas veias e do sangue que se vai esvair aos poucos e manchar o nosso amor
sinto-o a escorrer por mim
acordo aos gritos e o néctar da manhã, ainda envolta numa bruma, recupera a claridade e reclama a lucidez para a nossa cama
felizmente
reparo que dormes ao meu lado, as tuas pálpebras sombreadas de doçura e fico assim, de frente agora, a pensar se são os teus
os olhos negros que me sondam
ou de um outro que te habita e quando acordas, já sem névoa, a manhã alta e límpida na cama, o amor salvo do sangue, quando acordas e os abres e me olhas descubro que são azuis e se desarmam quando, em paz, rumam aos meus.

Sem comentários: