21 julho 2005

Olhe, desculpe...

... desculpe lá entrar assim por aqui adentro, sem bater, ainda por cima, mas é que não vi a porta e a janela estava aberta e olhe, sei lá, deu-me vontade de espreitar, sabe, acho até que é natural, para mim é, tenho a mania de espreitar, eu sei que é feio, que não se faz, mas há tanta coisa escancarada por aí que os olhos não resistem a espreitá-las, apanham uma nesga e pumba!, pespegam-se, parece que querem comer as palavras à dentada, e depois colam-se a tudo, mastigam, ficam com elas entaladas a caminho da cabeça, dá-se por eles e já é tarde, embasbacados com o transe do néon, o branco de uns e o branco de outro confundidos e as pupilas dilatadas a atentar nos gatafunhos, a decifrá-los ou lá o que é isso que fazem, a perceber se são mesmo para dizer alguma coisa ou se alguém os disparou num ataque de loucura ou qualquer coisa do género, assim tipo só para confundir a malta, está a ver, para baralhar, dá cá uma trabalheira que eu nem lhe digo nada, até porque, a certa altura, um gajo acorda e pensa o que é que veio aqui fazer e já não encontra nada, é sempre tudo a mesma merda, a mesma mancha, os mesmos riscos alinhados pela bitola das teclas, diga-me lá se não é tudo as mesmas letras, bem feitinhas, com certeza, que nisto as máquinas não falham, mas vai-se a ver o sentido e não há nada, qual sentido, e um gajo pensa, porra, mas para que é que eu fui perder tempo com isto e vai espreitar para outro lado, que raio de vicío, é o que eu acho

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