03 julho 2005
Irritas-me
sempre que ensaias literatura, ou lá o que é isso que escreves, sempre que vens de carne dar ao plasma, como se fosses mais que eu e tivesses, à tua disposição, mecanismos que o meu corpo não comporta e uma forma de dizer as coisas que a minha mente não consegue decifrar. Nem sequer é o talento que te invejo, porque não o reconheço, mas essa falsa modéstia em que te envolves, convencida de que assim te sobrepões ao estorvo que represento para ti e que me anulas, deixando-me à mercê da minha própria estupidez. E, no entanto, todos os meus movimentos estão dependentes do teu corpo e cada uma das palavras que preferes atribuir-me, não vá alguém pensar que és tão parva como eu, sai directa dos teus dedos. Afinal, quem pensas iludir com esta espécie de truques?
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