03 julho 2005
Partias
levando a cor azul do mar contigo e o seu rumor de conchas junto às cordas da guitarra, convencido de que assim a cidade não te engoliria e que terias um refúgio a servir-te de paisagem e uma orquestra que à tardinha tocaria em tua honra. Mas foi tão pesado o chumbo que encontraste à tua espera que logo a cor azul do mar ficou parda e tingida de cimento. Pouco depois foram as conchas, abatidas pelo frémito dos prédios e sem forças para as canções que embalavam os teus sonhos. E então, ao fim do dia, ataste as cordas da guitarra às duas mãos, acreditando dessa forma que guardavas cada um dos seus acordes para o teu regresso à ilha, e aceitaste a tua triste condição de urbanidade. Já lá vão anos e nunca mais voltaste a casa.
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