05 julho 2005

Minha querida filha,

hoje de manhã, quando acordei, descobri o teu bilhete em cima da escrivaninha. Li-o e reli-o várias vezes e ainda me custa a acreditar que tenhas acedido a ir para um manicómio na companhia de um senhor que mal conheces. Está bem que Miguel Bombarda é um nome que, até a mim, me diz alguma coisa, mas daí até teres concordado em seguir os seus conselhos vai uma grande distância. Tenho pensado se terão sido os meus gritos despropositados que te fizeram tomar esta decisão precipitada, mas não creio. Afinal, grito contigo tantas vezes e sempre tão a despropósito que não era agora que te ia dar para te ofenderes. A verdade é que já sinto muito a tua falta. A casa parece-me vazia sem as tuas maluqueiras e dá-me um aperto no peito quando penso que te podem fazer mal. Só espero que não te rapem o cabelo, que não te dêem choques eléctricos e que não te mandem para casa ainda mais doida do que és, pois não ia aguentar e detestaria entrar em coma novamente.
Aguardo notícias tuas, se é que podes escrever cartas daí. Se puderes, por favor, conta-me tudo.
Muitos beijinhos da
Mãe

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