que possuo é o exercício de auto-crítica. É verdade que nem sempre o trago à esfera pública e que o pratico, na maior parte dos dias, em privado. Seja como for, é suficiente para me dotar de uma elasticidade considerável e é graças a ele que sou capaz de detectar os meus buracos negros, esforçando-me, para lá do evidente, não só por os compreender, como - e sobretudo - por os deixar para trás. Mas ninguém vive apenas do seu lado luminoso e eu não sou excepção à regra. Saber, exactamente, onde sou intolerante ou em que aspectos é que a inveja me carcome não me torna indulgente nem me redime de continuar a cobiçar o que não tenho (e queria ter). Da mesma forma, não é por passear pelos meus lugares de sombra e maldicência, dando-me conta dos contornos imprecisos dos meus actos ou do gume das palavras, que me torno mais bondosa. E, no entanto, passar a pente fino os vícios e as fraquezas, os defeitos e os erros, as arrogâncias, as vaidades, a própria estupidez a que cedo tantas vezes faz-me perceber melhor a minha natureza humana e ver até que ponto há nela coisas que, provavelmente com o tempo, serei capaz de iluminar.
Mesmo sabendo que no fim da minha vida existirá ainda em mim o que não gostei de ser, e que é suposto morrer sendo-o ainda, exercitei-me. Vi-me ao espelho e descobri-me. Mergulhei nas minhas sombras, conhecendo a escuridão do que não soube transformar. Talvez da próxima vez, quando voltar, repare que um ou dois buracos negros já ficaram para trás. Ou talvez não.
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3 comentários:
O que é que te deu, Sophia?! Mas alguma vez na vida tu, minha grande parva, fazes auto-crítica?!
gonçalo, juro por Deus: não fui eu que escrevi isto nem sequer sei de onde é que veio...
eu sei.
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