01 julho 2005

Fico tão emocionada

quando espreito blogues que se empenham, com todas as forças que têm, em acérrimas polémicas. Blogues sérios - muito sérios e à séria - que assumem posições face aos mais complexos temas, muito liberais às vezes, outras mais conservadores, alguns fundamentalistas, mas todos sempre com a profunda convicção de que estão a prestar serviço público e a contribuir para enriquecer o intelecto da nação, essa «massa» colectiva de neurónios que, nos blogues, se agita ao correr dos posts. E depois gosto do séquito de admiradores magníficos, diria quase serviçais, que vem postrar-se de joelhos nas caixas de comentários, agradecendo a luz ao criador e as suas palavras sábias, gosto do lugar comum
«excelente post, como sempre!»
repetido até à náusea
«excelente post, como sempre!»
«excelente post, como sempre!»
«excelente post, como sempre!»
e gosto do criador, que resplandece e cresce em frente ao seu próprio espelho mágico, e que agracia a sua corte com modéstia
«mas que exagero!»
«também não é tanto assim...»
«faço o que posso...»
No extremo oposto, também gosto das hordas discordantes, dos que questionam, com mais ou menos fundamento, a opinião do blogger-fundador, e deste a voltar à carga, e das hordas ao ataque, e do blogger à defesa, e da caixa a transbordar
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e vai-se a ver, vai-se a ler cada um destes extensos oitenta e sete
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comentários com paciência e atenção, percebendo o que existe atrás da esgrima de palavras e quais são as posições que cada um ocupa nelas e, nessas guerrinhas de plasma, a ilusão dos assuntos lineares quase nos tira a percepção do espaço aberto, ao fechar-nos num rectângulo.
E é por isso que, quando me dá para espreitar blogues assim, muito sérios e à séria, que se empenham em acérrimas polémicas, e que vejo mais ou menos tudo a ser disparado pelas teclas, sempre tudo direitinho, uma letra atrás da outra, as frases compondo rectas, me emociono. Porque, fora do plasma, e longe das palavras rectas, o mundo e todas as coisas que o compõem - factos, leis, opiniões, polémicas, paisagens, histórias, decisões, seja o que for - são intrincadas linhas curvas. Não começam nem terminam em si próprias, o que faz com que tudo se relativize e esbata... Não há uma cor pura, mas mais de mil tonalidades...

6 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post, como sempre!

Anónimo disse...

assino por baixo.

sophia disse...

não, que exagero!

sophia disse...

faço o que posso...

sophia disse...

também não é bem assim!

Anónimo disse...

Excelente, excelente. Para quando a passagem do blog a livro?